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Healthtechs acentuam curva de inovação em um setor reativo a mudanças
O setor de saúde está passando por vários desafios, que vão desde mudanças organizacionais, alto custo dos serviços, questões relacionadas a compliance, falta de profissionais, até novos hábitos de consumidores, ávidos por mais soluções digitais. É fato que alguns desses desafios vêm de longa data, outros foram radicalizados ou até criados pela pandemia.
De acordo com o Gartner, 63% dos serviços de saúde estão enfrentando severas disrupções. No entanto, apesar das estatísticas de que as novas tecnologias trarão impactos positivos para a saúde, o setor ainda fica atrás de outros segmentos do mercado em relação à inovação — compare com as mudanças no setor financeiro e de meios de pagamento, por exemplo.
Mas, se até pouco tempo a adesão lenta a novas tecnologias no setor de saúde era encarada como produto da cautela, hoje a transformação digital e a inovação passam por um ciclo virtuoso. É por meio dessas soluções que as healthtechs estão respondendo aos desafios.
A tecnologia aplicada na área de saúde é vista, atualmente, como fundamental para a melhoria da experiência do paciente e do cuidado de ponta a ponta, da atenção básica às cirurgias complexas. E também para a criação de novas fontes de crescimento e redução de custos.
Segundo o State of Healthcare 2021 Report, o investimento privado mundial em saúde aumentou pelo sétimo trimestre consecutivo, ultrapassando US$ 34,7 bilhões no Q2 de 2021.
O relatório mostra que a aceleração de iniciativas em transformação digital explicam a tendência: 60% das empresas do setor estão criando novos projetos em digital e 42% estão acelerando alguns ou todos os planos existentes.
A OMS estima que o mundo gaste o equivalente a 10% do PIB mundial em saúde, índice parecido com o do Brasil, que fica em torno de 9,2% de toda a riqueza produzida pelo país.
O mercado das healthtechs é promissor
Diferentemente do que acontece em empresas de outros segmentos integrantes do ecossistema de startups, nas healthtechs as validações e os ciclos de crescimento e vendas tendem a ser mais espaçados.
Isso se deve ao fato de que, na medicina, cujo foco principal é preservar vidas, há baixa tolerância a erros, que podem ter consequências fatais. Por isso, algumas soluções levam um tempo maior para enfrentarem os ciclos de pesquisas, testagem, aprovações por órgãos governamentais até estarem prontas para o mercado. O caso da vacina de RNA da Pfizer para covid-19 foi uma exceção.
Ainda assim, tecnologias de automação como Inteligência Artificial (IA), Robotic Process Automation (RPA), wearables e blockchain estão reinventando produtos e serviços no setor de saúde. E a exigência vem dos próprios pacientes, que têm dado preferência às soluções digitais, mais cômodas, velozes e seguras.
Pela natureza disruptiva, especialmente em um período atípico como o atual, as healthtechs passaram a ser acompanhadas mais de perto por grandes investidores e fundos.
Segundo a Sling Hub, maior plataforma de dados de startups da América Latina, em 2021 o setor captou em investimentos mais de US$ 350 milhões, o que corresponde a um aumento de 330% em relação a 2020. Só no Brasil, em um ano, os investimentos subiram 423%.
Healthtechs no Brasil: um panorama geral
As healthtechs surgiram no Brasil para otimizar os serviços de saúde pessoal, prevenção e de sistemas de gestão. Dentro desse escopo, também foram desenvolvidas tecnologias voltadas para procedimentos cirúrgicos e protótipos robóticos, por exemplo.
Além disso, as healthtechs têm como foco a potencialização da medicina preditiva e proativa, além do diagnóstico e tratamento, de forma mais personalizada e humanizada, colocando o paciente como protagonista do processo de promoção da sua própria saúde e bem-estar, a chamada Saúde 5.0.
No entanto, a maioria das startups de base tecnológica no Brasil ainda se restringe a atuar em áreas de gestão e prontuário eletrônico, como a Memed; soluções de acesso à informação, marketplace, farmacêutica e diagnóstico, como a Neuralmed, que utiliza inteligência artificial para aumentar a precisão da triagem e das decisões médicas, reduzindo a requisição de exames ou a prescrição de procedimentos e tratamentos desnecessários. O índice chega a 30% pelos cálculos da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP).
Isso não significa que não haja empresas desse setor voltadas diretamente a questões mais complexas da área.
De acordo com o portal Hospitais Brasil, há projetos de startups brasileiras que desenvolvem software para aplicação em tratamentos de câncer, ou trabalham em aplicativos e uso de IA no controle do diabetes, assim como na personalização de tratamentos de doenças neurológicas, cardíacas e psiquiátricas.
Além disso, a quantidade de healthtechs no país e de investimentos nelas vem aumentando consideravelmente. Em 2018, havia no Brasil 248 empresas, um quarto das 1.002 registradas em 2021, que receberam mais de US$ 530 milhões em investimentos (cerca de quatro vezes mais do que no ano anterior), de acordo com mapeamento realizado pela plataforma de inovação para grandes empresas Distrito.
Somente em inteligência artificial, no ano passado foram investidos mais de US$ 41 milhões em startups no Brasil. No ano anterior o investimento nessa categoria tinha sido de US$ 1,5 milhão, um crescimento de quase 3.000%.
O futuro da saúde com as healthtechs
O que alguns pacientes experimentaram durante a pandemia, como consultas por telemedicina, foi só o começo. O que as healthtechs propõem é, por exemplo, obter diagnósticos à distância, após discussões entre diferentes especialistas da área da saúde; ter acesso a exames digitais, minutos depois que ele é concluído; e a realização de procedimentos cirúrgicos de forma remota.
Parece uma grande revolução? Para a área de saúde, talvez.
Os pacientes anseiam pelos produtos dessas startups, traduzidos em maior precisão no diagnóstico e no tratamento, o que para a área da saúde é decisivo em termos de eficiência operacional e economia de custos.
Os avanços tecnológicos apresentados pelas healthtechs visam as tecnologias de automação e a interconectividade constantemente aprimorada.
E olha que nem começamos a falar da conexão 5G, que vai trazer ainda mais velocidade na captação, armazenamento e análise de dados, permitindo serviços médicos cada vez melhores, com auxílio de realidade virtual e realidade aumentada.
Mas a tecnologia 5G é assunto, quem sabe, para um próximo artigo.